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quinta-feira, 28 de março de 2024

quinta-feira, 21 de março de 2024

Projeto Formar Leitores com Arte - 9º ano

 

A partir da leitura de Eu Dou-te o Sol, de Jandy Nelson, os alunos do 9º ano, na disciplina de Educação Visual, foram convidados a desenhar formas relativas aos personagens, ambientes ou ações descritas no texto.

As formas desenhadas foram tratadas graficamente adotando o processo de síntese simplificação por nivelamento e ou o tratamento da mancha com alto contraste.

Estas ilustrações tiveram como referência a obra da artista plástica portuguesa Xana Abreu.







Os irmãos gémeos Jude e Noah são inseparáveis. Aos 13 anos, Noah é um jovem tímido e solitário que adora desenhar. Jude, pelo contrário, é extrovertida, tagarela e sociável. Três anos mais tarde, tudo se altera. Jude e Noah mal falam um com o outro. Um trágico acontecimento afetou os gémeos de forma dramática… Até que Jude conhece Guillermo Garcia na Escola das Artes, um escultor ousado e bem-parecido que vai ter um papel determinante na vida dos irmãos. O que os gémeos não sabem é que cada um deles conhece somente metade da história das suas vidas e, se conseguirem reaproximar-se, terão a oportunidade de reconstruir o seu mundo.

Jandy Nelson

Jandy Nelson nasceu em Nova Iorque, em 1965, e é licenciada pela Cornell University, tem um mestrado em Poesia pela Brown University, e outro em Escrita para Crianças e Jovens Adultos pelo Vermont College of Fine Arts.

O Céu Está em Toda a Parte é o seu primeiro romance e está traduzido em mais de 22 línguas. O seu segundo livro, Eu dou-te o Sol, recebeu vários prémios e distinções, entre os quais o Printz Award na categoria de Melhor Livro para Jovens Adultos.

Xana Abreu
(www.xanaabreu.com)

A artista plástica Xana Abreu nasceu em Lisboa em 1975. Licenciada em Artes Plásticas e Pintura pela Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, manteve uma carreira paralela na área da música: no início dos anos 2000, era vocalista da banda Massala e, em 2010, criou o projeto Xana Toc Toc que chegou ao primeiro lugar em vendas.

Em março de 2020, quando começou a pandemia de Covid-19, Xana Abreu lançou o single "Todos Unidos, Todos Protegidos", uma canção com mensagem positiva para as crianças. Nesse mesmo ano, a artista anunciou o fim do projeto Xana Toc Toc e continuou o seu trabalho como artista plástica, com vários trabalhos individuais da série "Na Tua Pele".

Xana Abreu considera-se influenciada por todas as expressões artísticas que a rodeiam e inspira-se tanto nos grandes mestres como nos artistas contemporâneos e de “Street Art”. Pinta essencialmente em tela, madeira e esculturas feitas de resina e fibra de vidro, mas mantêm-se recetiva e procura sempre outros meios para explorar.



(www.xanaabreu.com)







quarta-feira, 13 de março de 2024

14 de março – Dia Internacional da Matemática

 


O Dia Internacional da Matemática celebra-se todos os anos, desde 2019, no dia 14 de março.

Até 2019, o dia 14 de março era conhecido mundialmente como o Dia do Pi. A data é escrita como 3/14 em alguns países e 3,14 é o valor aproximado de Pi.

O Dia Internacional da Matemática é uma iniciativa da União Internacional de Matemática, organização dedicada à cooperação internacional no domínio da Matemática, e teve o apoio de várias sociedades científicas, incluindo a SPM (Sociedade Portuguesa de Matemática) e a APM (Associação de Professores de Matemática).

Neste ano letivo, para assinalar este dia, os alunos do ECB foram desafiados pelos professores de Matemática a tirar uma fotografia sobre um ou vários motivos relacionados com a Matemática e a fazer uma descrição sobre esses motivos. Os trabalhos serão, posteriormente, expostos na sala de aula de cada turma.

Para conheceres um pouco da história da Matemática através de uma aplicação interativa clica no seguinte link:


https://view.genial.ly/640f6859127deb0011c88599/interactive-content-historia-da-matematica-or-g500-ecb-or-2024

sábado, 27 de janeiro de 2024

Em memória das vítimas do Holocausto

 

A 27 de janeiro de 1945, as tropas soviéticas libertavam o Campo de Concentração e Extermínio Nazi de Auschwitz-Birkenau. A 1 de novembro de 2005, através da Resolução 60/7 adotada na Assembleia Geral das Nações Unidas, o dia 27 de janeiro foi proclamado como o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, com os objetivos de prestar homenagem à memória das vítimas do Holocausto e relembrar a necessidade de combater quaisquer formas de intolerância que possam levar à violência, incluindo o antissemitismo e o racismo.

Numa atividade inserida no Plano Nacional de Cinema, após a visualização numa aula de História A do documentário A noite e o nevoeiro, de Alain Resnais (1955), os alunos do 12º D foram desafiados a produzir um pequeno texto sobre a temática do Holocausto nazi, com o objetivo de trabalhar as dimensões cognitiva, emotiva e ética, e o conceito de empatia histórica. Se assim o entendessem, escolheriam uma banda sonora para acompanhar o texto.

Partilhamos aqui alguns desses textos:

Hoje anoitece pela última vez

Hoje acordei…

Tive a sorte que muitos de vós,

Por serem como eu sou,

Não tiveram.


Hoje acordei e sorri.

Lembrei-me de mim,

De como em tempos, longínquos,

Fui capaz de ser feliz.

Aquela felicidade comum,

Inútil e desvalorizada…

Assim era até deixar de a conhecer.

 

Hoje acordei e desejei,

Embora que por instantes,

Não ter acordado.

Desejei não acordar

Para não ter de enfrentar,

Mais um dia, a realidade.

Como me magoa o real

E o que o motiva.

 

Hoje acordei e pensei

De olhos abertos no céu,

Da sua grandeza e da oportunidade,

Efémera, de viver nele.

 

Hoje acordei e estou já sem forças.

Lá fora neva, o sol esconde-se…

Tem medo dos soldados

E da luz que lhes concede.

Terá sido o sol que iluminou

Estes homens, ou as trevas?

Javé, se me escutas,

Dá-me ânimo para os enfrentar…

Eu não sou já capaz de o fazer.

 

Hoje acordei e lembrei-me

Das folhas de papel, da pena

E da tinta que me socorria

Em momentos de dor.

Não tenho já as folhas,

Esvoaçaram-me das mãos,

Seguiram o seu rumo

E socorreram outros como eu.

A pena, que anteriormente

Me fazia confessar os meus medos,

Quebrou e acabou por sucumbir.

A tinta, aquela tinta…

É agora uma marca na minha pele.

 

Hoje acordei e tive medo,

Tentei afastar-me dele,

Mas ele quis o meu colo…

Não lhe pude dizer não,

Talvez ele ficasse mais assustado

Do que eu já estou.

 

Hoje acordei e gostei de mim.

Ganhei coragem e senti a brisa,

Aquela brisa que me acalmava,

Mas não mais o faz.

Passeei-me pelo verdejante…

Tentei não tropeçar

Naqueles que a brisa

Atirou ao chão e não mais levantou.

Imaginei-me ali, deitado,

Junto dos meus, com pena de mim,

E com saudades deles.

 

Hoje acordei e esperei a noite.

Ela chegou e os que comigo acordaram,

Nem todos anoiteceram comigo.

Ouvi um choro,

Senti um apertar no peito

E com a mão, já cansada,

Limpei a minha face e, inocentemente,

Acalmei o meu coração.

 

Hoje acordei e adormeci…

Não sei, nenhum de nós sabe,

Se não sonho hoje pela última vez.

 

Música: Glimpse of Death (Vislumbre da Morte)

Autor: Martin Czerny

Martim Carvalho

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Excertos de um diário

“Hoje fomos obrigados a sair de nossas casas sem saber para onde iríamos nem o que iriam fazer com a gente, tiraram-nos todos os nossos pertences e até mesmo a roupa que vestíamos no corpo, fui separada da minha família sem saber quando poderia vê-los novamente, somos identificados por números que foram tatuados na nossa pele.”

“Começaram a colocar as pessoas para trabalhar e as que por algum motivo não conseguem estão sendo mortas aos poucos, nós mulheres já não temos cabelo, pois nos tiraram para fazer tecido, nos molestam sexualmente e somos tratadas igual a animais, quase não comemos e quando comemos nos dão restos de alimentos”

“No campo, há um hospital para onde vão os que ficam doentes, mas nunca voltam, pois são mortos e seus corpos são usados para estudo científico”.

“Hoje nos disseram que iríamos tomar banho e nos levaram até um edifício onde tivemos que ficar nus, fomos empurrados e fechados dentro de uma câmara e dos chuveiros começou a sair gás e fomos asfixiados até à morte”.

(Eu escolheria a música de Frédéric Chopin – Marcha Fúnebre, por se tratar de um caos genocida aplicado aos judeus e outros prisioneiros nos campos de concentração.)

Aline Carboni

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Querido Elie Wiesel,

Escrevo com o coração pesado deste lugar sombrio. Aqui, cada vez mais se torna numa luta violenta para sobreviver, desde a fome e o frio que nos consomem, à esperança que, por muito pouca que seja, não deixa de existir.

Cada face, bem marcada pelos ossos de tão desnutridos que estamos, conta uma história. Os dias parecem cada vez mais longos e as noites cada vez mais frias, escuras e com um nevoeiro cerrado. Às vezes partilhamos sorrisos discretos quando nos metemos a relembrar do tempo que o que está à nossa volta não é apenas arame farpado, onde muitos dos meus companheiros já tentaram escapar, mas sem sucesso. Mantenho viva a lembrança do que fui antes deste pesadelo.

Tenho saudades de poder sair à rua sem me preocupar se vou encontrar algum oficial ou algum guarda numa esquina, o qual, embriagado, apenas por precisar de apanhar algum ar fresco, porque lá dentro há um cheiro horroroso devido ao facto de estar tanta pessoa junta, pode agarrar na sua arma e matar-me ali, sem mais nem menos, sem razão absolutamente nenhuma.

Tenho esperança que ainda haja alguma alma boa que nos possa vir salvar destes carrascos!

Cumprimentos e esperança,

(A música que eu acho adequada para esta carta é “Imagine” do John Lennon, pois a música fala de um mundo sem fronteiras, onde as pessoas vivem em paz, trabalham por um futuro melhor e superaram as diferenças, reforçando assim a esperança por um mundo melhor.)

Beatriz Paulo

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Meu amor…

Escrevo-te carregado de dor e de desespero. É difícil encontrar palavras suficientes que exprimam aquilo que todos nós vivemos aqui diariamente. Nas veias só me corre frustração, tristeza e resignação. Queria poder contar-te tudo. Ouvires-me curar-me-ia de parte das minhas dores e dos meus devaneios. Sei que tal não é nem nunca será possível, portanto escrevo-te, sem qualquer esperança, na tentativa de encontrar algum alívio na ideia impossível de me que poderás ouvir. Estejas onde estiveres, espero-te bem. Espero-te seguro, em paz e, acima de tudo, feliz tanto quanto possível.

O terror e a perseguição infestados nestes campos não distinguem corações apaixonados. Por sermos homossexuais, somos alvo de um ódio irracional, uma caça desumana que atinge os valores mais íntimos de nossa identidade. Cada olhar, cada gesto, é carregado de medo, pois somos julgados apenas por sermos quem somos e por amarmos quem amamos. Aos olhos deles, é um pecado escolher o amor em vez do ódio. Vá-se lá saber o que lhes passa por aquelas cabeças… Fecham-nos dentro de quatro paredes apenas por não quererem abrir as suas próprias mentes.

É desolador saber que há um silêncio ensurdecedor diante da monstruosidade que ocorre nestas instalações. O mundo parece distante, como se a humanidade tivesse fechado os olhos para o sofrimento que vivemos diariamente. A indiferença, talvez, seja a maior traição aos direitos humanos. Todas as noites, antes de me deitar naquela dura e desconfortável pedra, questiono-me sobre como é que o mundo chegou onde chegou. Como é que nós, enquanto sociedade e humanidade, permitimos que nos roubassem todos os mais básicos direitos humanos?

Nos corredores deste inferno, o desrespeito pelos direitos humanos é uma realidade avassaladora. A liberdade de amar é negada, a dignidade é pisada, e a esperança é-nos constantemente roubada. Somos testemunhas de um capítulo sombrio da história que, no futuro, estou certo de que clamará pela justiça e pela erradicação de ideologias que destruíram e destroem vidas com base em preconceitos.

Apesar das vedações que me cercam, encontro refúgio nos nossos momentos. Recordo-me dos abraços e das trocas de olhares. Dos beijos e dos serões a sós. Recordo-me de tudo o que me fez feliz e do que, de uma forma ou de outra, ainda me mantém vivo. Dizem que a esperança é a última a morrer, mas sinceramente não sei como é que é possível continuar com ela depois de presenciar tudo o que já presenciei. Vejo caras novas todos os dias e, aos poucos e poucos, caras conhecidas vão desaparecendo... Todos os dias ouço novas despedidas. Muitas delas repetem-se entre as mesmas pessoas, mas chegará um dia em que essa despedida será mesmo a última. O mais triste é que eu sei disso. Já aceitei o que o destino me reserva. Já aceitei que não te voltarei a ver mais e estas minhas cartas são o último contacto que eu terei contigo. Pelo menos na minha mente… sei bem que jamais sairão destes edifícios. Aceitei que o mundo nos traiu e nos abandonou.

Que estas palavras sirvam como testemunho de um amor que transcende as barreiras cruéis impostas por esta ideologia desumana.

Com todo o meu amor,

Teu,

Hoje e sempre,

Luís

(Música: Franz Liszt – Liebestraum -Love Dream

A principal razão pelao qual eu escolhi esta música é por ela se intitular “Love Dream” (sonho de amor), que é o motivo desta carta ser escrita.

Por outro lado, a música começa com alguma calma, mostrando a tristeza e o desespero do escritor. Para o meio, a música começa a ficar mais rápida, mostrando a sua frustração e angústia ao viver no mundo em que vive.)

Bianca Mendes

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17, Novembro, 1944

Querida mãe,

Como está? Por aqui os dias parecem cada vez mais difíceis, o céu aparenta uma cor cinzenta e triste, as noites são mais frias e escuras e as árvores menos verdes e sem vida... não sei se é impressão minha, mas sinto que à noite consigo ouvir os gritos de todos aqueles cujas vidas lhes tiramos. Por vezes, dou por mim a pensar “Será isto correto?”; “Será mesmo que o Führer quer o melhor para a nação?”; “Será isto o melhor para todos?”, mas depois sinto-me culpado e ingrato por duvidar do nosso poderoso Führer que já muito fez por nós, alemães, sempre lhe obedeci sem grandes questionamentos, mas confesso que ao pensar em tudo isto começam a surgir algumas perguntas sem resposta.

A cada dia que passa chegam mais pessoas. Estas são divididas por categorias: mulheres, homens, crianças, judeus, ciganos, homossexuais, comunistas entre muitos outros, todos fonte de grandes filas de corpos despidos, que mais tarde acabariam por ficar numa magreza quase inexistente.

As mães choram e pedem piedade para os seus filhos, mas são completamente ignoradas, alguns homens lutam por pedaços de pão e outros acabam por morrer esfomeados, muitos são escravizados para trabalhos pesados e alguns acabam por morrer sem forças.

Contudo, os mais afetados são os judeus, são milhares e milhares a chegar, sejam velhos, homens, mulheres, crianças ou até mesmo incapacitados, pois mais cedo ou mais tarde vêm todos parar a Auschwitz, onde são completamente discriminados, gozados e por vezes espancados, algumas das mulheres acabam por se prostituir para ganhar um pouco de pão, e alguns homens tentam subornar os soldados, mas ambos sem sucesso, pois a única certeza é a morte. São corpos por cima de corpos, todos espalhados por grandes valas, câmaras de gás com cheiros cada vez mais intensos, por onde sai o fumo mais preto que já vi em toda a minha vida, as pobres pessoas não têm escolha, o destino final irá sempre ser a morte por mais que o tentem evitar.... Pergunto-me então onde estão os seus direitos? Isto não está certo, existem direitos a serem violados.

A maior parte dos soldados sente prazer ao humilhar os pobres judeus, mas eu, minha mãe, sinto uma forte desilusão comigo mesmo, porém não ouso opor-me contra o nosso poderoso chefe, pois tenho muito medo do que este possa fazer à nossa família, então limito-me obedecer.

Ninguém sabe o que aqui se passa, por mais perto ou longe que habitem, ninguém se questiona, no entanto, já ouvi falar de alguns europeus e americanos que andam a investigar para onde são levados tantos judeus, algumas perguntas começam a surgir, e muitos pretendem mudar isto, mas até agora, ainda nada se fez, quem saberá num futuro próximo.

No outro dia foi ordenado a dois judeus que tocassem “Prelude, Op. 28, No. 4” de Frédéric Chopin, senti uma forte ligação com aquela melodia, como se esta me pudesse compreender, e reconhecer todo este horror, vazio, dor e melancolia que sinto em relação ao que está a acontecer.

Minha mãe, sinto-me profundamente triste e horrorizado por todas as crueldades que estou a fazer, mas tenho plena consciência de que tenho de o fazer pois esta é a única solução, dado que, por mais que não esteja de acordo, é o meu dever, obedecer e respeitar a minha nação acima de tudo.

O seu amado filho,

Christoph

Inês Tavares Ribeiro

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Querido diário,

hoje foi um dia muito triste. Neste bairro, as coisas estão assustadoras. As famílias estão a ser separadas e só ouço notícias tristes sobre mortes. Cada dia que passa perco a fé e esperança que tinha, agora só me resta o medo, a negatividade e a forma do que como isto vai acabar

A vida está cada vez mais difícil aqui, nós passamos fome diariamente e não nos dão comida suficiente para viver. Nem sempre temos comida neste quartinho e o pouco que temos não é suficiente, sinto o meu corpo a mudar drasticamente a cada dia que passa. Os meus ossos estão nitidamente visíveis e isso assusta-me tanto que já nem me reconheço…

Aqui está tanto frio, não temos aquecimento para nos aquecer e muito menos roupas que se adequam a este tempo tão gelado. Já não sei como é a sensação de dormir numa cama aconchegante, quentinha e ter o meu próprio espaço.

Aqui todos dormimos num quarto apertado e estreito. As camas são duras e não consigo dormir bem. À noite, ouço barulhos assustadores, já o frio entra por todos os lados, até pelos buracos da porta e pelos vidros partidos. E o meu maior medo são os pesadelos que decidem atormentar-me todas as noites…

Não tomamos banho, andamos sempre sujos e sujeitos a qualquer doença. A minha mãe está muito doente e já não consegue sair da cama e isso preocupa-me muito, pois ela é tudo o que eu tenho na minha vida.

Envio o máximo de cartas todos os dias a pedir ajuda, mas parece que ninguém se importa!

Torna-se muito difícil encontrar esperança. É difícil entender o porquê de o mundo nos virar as costas…porquê tanto preconceito? Nunca fizemos nada de errado a ninguém! Os direitos humanos deveriam ser para todos, mas parecem ter desaparecido...

A morte parece estar cada vez mais próxima e, ainda assim, o mundo mantém-se na mesma. Não temos apoio e ajuda de ninguém!

Neste momento, só gostava de voltar para casa, poder estar em paz novamente, ter o meu sossego e conforto que desejo há dias. Rezo todos os dias para regressar aos momentos felizes onde vivi, retornar ao meu país, rever os meus amigos e sorrir novamente… será que os meus desejos podem tornar-se reais?

Diário, vou ver se me esqueço dos problemas e ouvir alguma música. Vou pôr a tocar algumas das minhas músicas de blues favoritas. O blues sempre me faz esquecer dos problemas e recordar todos os momentos em que vivi feliz. Além disso, a minha mãe também adora, por estar bem mal acho que é uma forma boa para lhe tirar um sorriso.

Até amanhã!

Isabela Ferreira

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Páginas de diário

01/01/1944

Primeiro dia do ano e nem sei como estou viva ainda...todos os dias milhares de pessoas a morrer e eu vejo isso com os meus próprios olhos. Ainda não sei porque estou aqui, o que fiz para merecer isto, aqui dentro deste campo só há judeus, ciganos, homossexuais, deficientes e até prisioneiros, todos temos papéis diferentes, os deficientes, velhos e até algumas crianças vão logo para uma câmara, eles dizem ser um banho, mas quem vai para lá, não volta, simplesmente desaparece, o que é bem estranho.

02/01/1944

Mal tenho tempo para escrever aqui, trabalho todos os dias, sem parar, sem tempo até para ir fazer necessidades básicas, estou completamente desnutrida, não nos dão comida. As camas onde dormimos, se é que se podem chamar camas, são horríveis, os campos estão cercados com um arame farpado e são sempre viajados, já tentaram fugir, mas quem tentou morreu.

27/01/1945

Tinha perdido este diário, pensei que nunca mais o fosse encontrar, eles tiram-nos os nossos pertences e se descobrissem este diário eu seria morta. Mas hoje, hoje foi o grande dia, fui libertada, descobri que havia vários campos destes e que nos enganavam como se fossem campos bons onde na realidade era só trabalho forçado e tortura para no fim, quando não servíssimos para mais nada, irmos para a câmara de gás que diziam ser o banho. Estes campos estavam a acontecer sem a população saber, mas como não sabiam se milhares de pessoas eram deportadas todos os dias? Cerca de 11 milhões de pessoas morreram, algumas propositadamente, outras por tortura, doenças, frio fome.... foram os piores anos da minha vida e realmente nem sei como aguentei tanto, ainda bem que agora tudo acabou.

(A música que escolhi é Bring me to life, canção da banda de rock Evanescence.)

Juliana Cardoso

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O terror e a perseguição


Num mundo onde se estimam valores

Como o respeito, a paz e o amor

continuam a erguer-se vozes

que instauram o terror.

 

Na Alemanha, em 1933,

O regime nazi iniciou a perseguição,

Entre o povo despertou o pânico

E fez-se sentir a opressão.

 

Medo, desconfiança, ódio e desalento:

Foram os sentimentos que se viram surgir.

Aqueles que antes julgávamos conhecer

Agora nem um simples olhar nos conseguem dirigir.

 

Em tempos antigos

Vivíamos num feliz e humilde lar,

Hoje estamos na fila

À espera de algo para nos sustentar.

 

Entre os principais alvos estávamos nós,

Os descendentes de Jacó,

Exilados em campos de concentração

E maltratados pelos nazis sem dó.

 

Foi um tempo de desânimo, de desalento

E de intenso horror,

por vezes nem parecia a realidade,

mas sim um filme de terror.

 

Este foi um acontecimento

Que deixou marcas na história,

Juntos teremos de permanecer

Para que esta se torne apenas numa irrepetível memória.

(Se tivesse de escolher uma música para acompanhar o meu poema, escolheria algo semelhante ao fundo musical de Cicero Euclides, intitulado “Saudade”, pois uma vez que o poema envolve um tema doloroso e que deixou feridas na história, penso que um instrumental suave e melancólico suscita no leitor sentimentos de compaixão e de maior sensibilidade em relação ao tema retratado no poema.)

Margarida Catarino

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27 de janeiro de 2006

Querido diário, hoje conto-te a minha história

Durante 4 anos não tive nome, era apenas um número no meio de outros milhares que também não tinham nome, durante 4 anos não fui a Gina, fui o 11017. Ao chegar ao campo de concentração de Auschwitz, em janeiro de 1941, tatuar aquele número no meu braço foi das primeiras coisas que me fizeram, a mim e àqueles que comigo vinham no comboio.

Os vagões do comboio eram sufocantes, eramos centenas, uns em cima dos outros, todos apertados, sem espaço para respirar. Parecíamos animais a ser levados para o matadouro, sem direito a expressar a nossa vontade.

Ao chegarmos temos os que mais tarde vim a saber que são chamados Kapos, a gritar para sairmos dos vagões depressa. Ao sairmos, vejo que muitos desmaiaram no vagão, provavelmente devido à falta de ar que havia lá dentro. Esses são imediatamente levados para cima de uma carrinha com um destino desconhecido para nós que acabámos de chegar.

Ainda me recordo do medo que senti, tinha apenas 19 anos e estava sozinha, entrei naquele comboio terrível com a minha única família, a minha mãe, mas quando saí perdi-a de vista.

O primeiro trabalho que me foi atribuído era carregar tijolos para cima de carrinhos de mão e levá-los para junto do que iam ser novos blocos para mais prisioneiros. Se alguém deixasse cair um tijolo e este se partisse, a pessoa era castigada por um Kapo, isto é, espancada ou morta a tiro.

Depois de um dia a andar para a frente e para trás com carrinhos de mão pesadíssimos, finalmente podia descansar, numa cama muito pouco confortável visto que eram só umas tábuas com uma manta demasiada fina para o frio imenso que estava na rua. Já para não falar do “almoço” e do “jantar” que nos davam, era uma água suja com ervas que se assemelhavam a ortigas a boiar, e um pão duro e bolorento.

Quando acabaram as construções dos novos blocos, mandaram-me para o Kanada, o armazém onde os nazis acumulavam os bens de todos os prisioneiros, para fazer seleção. Se fosse vista a roubar alguma coisa era logo morta, mas corria esse risco pois muitas vezes havia comida dentro de malas, de bolsos de casacos ou calças. Qualquer comida era extraordinária ainda que podre e bolorenta.

Em 1945, as forças soviéticas aproximavam-se cada vez mais e os nazis tentaram apagar evidências daquilo que faziam no campo e ordenaram que os prisioneiros marchassem para outro campo de forma a evacuar Auschwitz. Eu fiquei e algumas centenas de pessoas também, não sabíamos o que nos ia acontecer, até os soldados soviéticos nos convencerem de que os nazis tinham finalmente ido embora.

Durante todo este sofrimento tive de me agarrar à ideia de haver a hipótese de me conseguir reencontrar com a minha mãe e no final valeu a pena não ter desistido quando as coisas não estavam fáceis. Quando regressei a casa ela já estava lá a reconstruir e a recompor tudo o que se tinha estragado por estarmos tanto tempo fora. Lembro-me de correr para os braços dela quando a vi no jardim e de ficarmos ali, abraçadas a chorar, a matar as saudades e com um alívio imenso por estarmos as duas vivas.

Foram 4 anos a sobreviver em péssimas condições, fisicamente consegui recuperar, mas ainda tenho pesadelos com os espancamentos e mortes que vi diante dos meus olhos, ainda me sinto culpada por não fazer nada, mas se fizesse a próxima era eu. Nunca vou ser capaz de esquecer toda a humilhação que passei, desde ter o meu cabelo rapado, a ter de me despir diante de todos, pessoas que não conhecia. Nunca me vou esquecer de como me trataram como se fosse um animal, sem ter direito a expressar a minha opinião, a me opor ou a dizer “basta”.

Gina Lewinski, 84 anos

(Se pudesse escolher uma música para acompanhar este texto escolhia Unbroken, de Birdy, porque do meu ponto de vista esta música fala sobre manter a esperança mesmo quando estamos numa fase difícil. Acho que nos encoraja a agarrarmo-nos a alguma coisa para nos guiarmos e para termos força para seguir em frente e para nos reerguermos.)

Margarida Fernandes

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Querido Diário,

Tenho tantas coisas para te contar… a vida está cada vez mais difícil aqui deste lado, tenho tanta fome, consigo ver todos os meus ossos bem definidos, os meus e não só…

Hoje até não foi muito difícil de passar o dia, tivemos um pequeno concerto de Jazz, foi agradável de ver, mas ainda me arrepio todas as vezes em que olho para os soldados e os vejo com um enorme brilho nos olhos por causa daquilo que nos estão a fazer.

Tenho tantas saudades da minha família, dos meus amigos, da minha casa, e eu, que era muito pouco grata por aquilo que tinha, hoje agradeço por uma migalha de pão e por acordar todos os dias (até ver).

Não tomamos banho, e quem toma não volta, ninguém sabe, para além daquelas que vão às câmaras tomar banho, o que lá acontece, dizem-nos que já estavam à beira da morte e que a água quente acabava por os queimar.

Dormimos todos juntos, cada um na sua cama, mas tudo na mesma sala, as camas são desconfortáveis e eu sinto os ratos a passarem por cima de mim durante a noite, tenho uma manta, superfina, há noites em que choro de tanto frio que tenho.

Neste momento só gostava de estar em paz, no meu sossego e no meu conforto, tenho que escrever escondida, e não é fácil me concentrar, qualquer barulho que ouço penso logo que eles vêm aí e me vêm matar.

Fui visitar o meu pai ao hospital, e deixa-me dizer-te que aquilo é muito mau, assim que a porta se abre para podermos entrar sente-se um cheiro péssimo, parece de morto, mas as enfermeiras dizem que é normal porque estão muito doentes, para além disso consigo ouvir as vozes daqueles que não sobreviveram naquelas camas pequenas e enferrujadas.

Os gritos que se ouvem constantemente, seja de pessoas a gemer de dor, seja de pessoas a implorar para que não as matem, são simplesmente a implorar para acabarem porque nós também somos seres humanos e não merecemos isto.

Quando falo em isto, refiro-me à pouca comida, aos poucos cuidados sanitários, às nossas noites mal dormidas, às mortes que vemos todos os dias por causa dos espancamentos e muito mais… é demasiado doloroso para uma criança de 9 anos…

Eu pergunto “porque é que isto está a acontecer?”, “o que é que nós fizemos de tão grave para merecermos isto?”, e continuo sem obter respostas.

Mas pronto… depois conto-te mais coisas, agora estão a chamar-nos para irmos cortar o cabelo.

(Banda sonora: https://youtu.be/QOKMyPDGM4k?si=pabCHQdPsu-SUvSR – eu escolheria esta música para acompanhar o meu excerto de diário, pois acho que a letra e até mesmo a trilha sonora dá-nos uma sensação mais triste e encaixa muito bem com o tema do texto.)

Maria Beatriz Ferreira

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Alemanha, 1943

Durante muito tempo não escrevi aqui, aconteceram tantas coisas que nem palavras para descrever tenho.

Separaram-me da minha família e não sei para onde os levaram, não sei se estão bem, não sei se estão num dos edifícios de cuidados, não sei sequer se estão vivos. Vivo numa tremenda angústia por esta mesma razão, por não saber nada. Separaram-me também do meu amor, dele também não sei nada e todas estas dúvidas que passam pela minha cabeça deixam-me cada vez mais fraca, sem forças para continuar a trabalhar e a lutar.

Sinto-me cada vez pior, e cada vez mais percebo que não vai haver saída desta tortura, que nunca iremos conseguir pôr fim a esta situação. Mas também, quem o conseguiria? Os nazis matam metade do nosso povo, prendem e censuram tudo e todos os que não estão de acordo com as suas práticas, por isso, quem conseguiria pôr fim ao “fim”?

Sempre tive muito medo da morte em si, sempre tive medo de morrer e deixar as pessoas que mais precisam de mim para trás, mas, passado tanto tempo trancada nesta prisão, passado tanto tempo a ser escravizada, maltratada, somente por ser judia, já não tenho medo de nada.

Ver todo o meu povo a ser torturado, a ser obrigado a trabalhar até cair para o lado, tornou-se uma coisa normal, e não tenho como exprimir a tristeza que isto me dá. Ver simples e honestas pessoas como eu, como a minha família, como o meu amor nestas condições… Ninguém merece passar por isto.

Faria tudo para poder salvar a minha família e o meu amor deste inferno que a vida nos deu. Faria de tudo para poder ver a minha família e o meu amor só mais uma vez. Faria de tudo para poder despedir-me deles e dizer-lhes o quanto os amo, o quanto preciso deles para continuar a lutar.

Hoje percebi que já não tenho medo da morte e sinto-a mais perto a cada dia que passa.

(Se tivesse de escolher uma música para acompanhar o meu texto, escolheria o tema «Another Love», de Tom Odell. Escolheria esta música pois, no meu entender e no meu ponto de vista, fala de tudo o que o compositor gostaria de fazer pela pessoa que ama se assim o conseguisse e se tivesse força suficiente para o mesmo.)

Mariana Costa

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Querido diário,

Hoje escrevo-te para contigo partilhar todas as emoções e sentimentos que experiencio, quando penso num período que ainda hoje me assombra, o terrível holocausto.

Vivia em Varsóvia, com os meus pais e o meu irmão, numa casa harmoniosa onde a luz entrava e trazia-nos paz e amor para o interior de todos nós. Lembro-me de ter 15 anos e ser uma menina que gostava de brincar na rua com os amigos e vizinhos, de ler, de desenhar, mas especialmente de escrever. Escrever, para mim, era uma forma de contornar os obstáculos como a água contorna as pedras que estão no leito do rio. Era feliz, muito sorridente e adorava a vida que tinha naquela altura. Era tudo perfeito!

No ano de 1942, começaram as primeiras deportações para os horríveis campos de concentração e chegou a nossa vez. Foi a 22 de julho do mesmo ano que eu e minha mãe fomos separadas dos homens da família e levadas num comboio que, supostamente, nos levaria para fora do horror que estava a acontecer na Alemanha, mas estávamos enganadas. Foi dentro de 4 paredes de madeira, com somente uma janela e quase como sardinhas em lata que fomos levados para Auschwitz.

Quando chegámos havia duas filas, não fazia ideia do que seria, mas viria a perceber que havia a fila onde estavam as crianças, os idosos e as pessoas incapazes de trabalhar que iam para as câmaras de gás, para serem eliminadas, e a fila das pessoas que estavam em boa forma para trabalharem. Foi onde eu fiquei, sem a minha mãe! Se ficássemos as duas juntas seria muito mais fácil ultrapassar o terror que nos esperava, mas não nos foi concedido esse consolo!

Quando cheguei à entrada, cabisbaixa, pediram-me o meu nome de forma muito rude, puxaram-me por um braço e começaram-me a picá-lo. Era o meu número, “187321”, que irá ficar marcado na minha pele até ao final da minha vida. E logo de seguida raparam-me o cabelo, e mais tarde vim a saber que servia para fazerem tecido e venderem.

Fui levada para uma espécie de camarata onde as camas eram simplesmente madeira e dormíamos três a quatro pessoas na mesma. Era horrível, desde o momento que entrei até ao momento em que saí, passei fome e fiquei extremamente magra, pois a única coisa que nos davam para comer era uma fatia de pão e uma sopa semelhante a um copo de água. Passávamos também imenso frio e isso tudo levava a doenças, como a pneumonia e a anorexia, que por vezes eram como se não existissem, porque diziam que como estávamos fracos éramos dispensados e eliminados através das câmaras de gás. Sofríamos de maus tratos durante o dia, quando trabalhávamos nos nossos postos, e até de noite. Durante a noite a casa de banho era um simples balde, que, se estivesse cheio devido ao uso das colegas da camarata, não podíamos utilizar mais. Se quando acordássemos de manhã, a KAPO e os guardas SS descobrissem que, por exemplo, tentámos fugir, éramos obrigadas a ser nós a despejar os dejetos e se percebessem que tinha sido algo mais grave, os dejetos poderiam ser despejados no nosso corpo.

Enquanto estive no campo, o meu trabalho era no Canadá, local para onde iam todos os pertences retirados aos prisioneiros, e eu tinha que os separar e colocá-los num armazém. Foi graças a isso que também consegui sobreviver, por vezes colocava pertences, debaixo da roupa interior ou até debaixo da língua, que achava que podiam ser trocados por comida para me alimentar.

Havia dias em que, devido à chegada de muitos prisioneiros, tínhamos de ficar no Canadá até mais tarde e, sempre que saíamos, questionava-me porque é que à noite havia um cheio horrível. Um dia perguntei às minhas colegas de trabalho se sabiam, responderam-me que era durante a noite que os prisioneiros iam para as câmaras de gás e eram queimados. Fiquei cheia de medo, mas também com compaixão das pessoas e das famílias que eram sujeitas àquele tipo de crueldade.

A vida continuou assim até 1945, mais precisamente a 27 de Janeiro, quando se deu a libertação, através das tropas soviéticas, do Campo de Concentração e Extermínio de Auschwitz. Foi aí que saímos à rua, foi aí que voltámos a ter a nossa liberdade, a ver o sol na realidade e agora vinha a reconstrução das nossas vidas. Foi muito complicado voltar a construir uma vida completamente do zero, não tinha mãe e nem sequer sabia do paradeiro dos homens da minha família. Só tinha uma solução, ir à procura dos meus tios que viviam perto da minha antiga casa em Varsóvia e consegui. Eles ajudaram-me a reconstruir uma vida após o horror que tinha passado. Foi muito difícil ultrapassar os primeiros tempos, tive muito medo pois tudo se tinha passado há relativamente pouco tempo e tinha deixado marcas muito pesadas.

Hoje, apesar de já estar muito velhinha, quero cada vez mais transmitir à humanidade os tempos horríveis e marcantes pela negativa, pelos quais eu e muitas mais pessoas passámos. Além de querer mostrar o que foi viver num campo de concentração, quero apelar a que sejam pessoas atentas e cada vez mais desconfiadas com o que se passa no nosso mundo, pois mais tarde vim a descobrir que mesmo ao lado de campos de concentração havia aldeias e os habitantes nem faziam ideia do que se passava mesmo debaixo do nariz deles.

Lembrem-se sempre que um campo que pode ser verdejante e que provavelmente traz paz e harmonia para as pessoas que usufruem dele, pode passar a ser um campo cheio de crueldade, maldade, horror e memórias terríveis. 

Deixo escrito neste papel um pouco da minha inquietação quando penso naquela que foi uma das épocas mais marcantes da história. Só me resta agradecer ao meu diário. Obrigada por me ouvires e ajudares a desabafar as minhas vivências durante este período que tenho esperança que nunca mais volte a acontecer.

Anna Polka

15 Março 2023

(Banda sonora: https://youtu.be/rbxBla_FWsc?si=KjvYKXNMuc8KLD6p

Escolhi esta banda sonora por me trazer calma, harmonia e serenidade, tudo o que eu queria que houvesse se tivesse vivido na altura do Holocausto. Além disso, tenho uma grande paixão por tocar piano e pelo filme “O pianista” também centrado no mesmo tema que este trabalho, por isso, na minha opinião, não havia melhor banda sonora do que a que escolhi.)

Mariana Loureiro

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Querido Pai,

Escrevo esta carta com o coração pesado, enquanto procuro palavras que transmitam o sofrimento que vivenciamos nas mãos dos nazis. A escuridão da opressão abateu-se sobre nós, tirou-nos a nossa liberdade, dignidade e muitos dos que mais amávamos.

No meio deste caos, encontramos força para resistir e preservar a esperança. Cada dia é uma batalha pela sobrevivência, um desafio para manter a humanidade diante da desumanidade. Compartilhamos histórias em sussurros, unindo-nos na solidariedade que nos mantém vivos.

Que esta carta chegue até ti num momento de relativa segurança e te traga consolo. Mantém a fé na justiça, mesmo quando a escuridão parece interminável. As nossas histórias não podem ser apagadas, e o amor e a compaixão continuarão a ser as nossas armas contra a intolerância.

Com carinho e esperança,

Teresa

(Marta Luís)

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[Diário de um Sobrevivente Português durante o Holocausto]

24 de fevereiro de 1944

Ora bem, mais um dia que parece ser o pior da minha vida, no entanto, muitos mais virão, iguais ou piores, visto que aqui nada é como o meu rico Portugal...ainda nem sei como é que vim aqui parar, no entanto, tenho bastantes saudades da minha pátria, que mesmo estando tão longe e provavelmente tendo pouco tempo de vida, às vezes sinto tão próxima.

O dia começou com a rotina habitual no campo de concentração. O frio penetrante entranhava se nos nossos corpos desnutridos, tendo de fazer uma longa caminhada pela neve até chegar ao local em que trabalhávamos, onde os meus pés descalços sentiam cada pedra e pedaço de gelo. E a fome... ah a fome, fazia-me sentir como um animal faminto, que consumia as minhas forças e esperanças.

Ao chegar ao campo de trabalho, deparei-me com homens que pareciam esqueletos a trabalhar até à exaustão em condições que nenhum ser humano deveria enfrentar. Os olhares vazios, os corpos pálidos, eram uma visão que me deixou realmente traumatizado, e que daqui a uns dias poderia vir a ser eu.

À noite, o cheiro pesado da morte preenchia o ar, não havendo luto, apenas a resignação silenciosa daqueles que perderam tudo, mulheres e filhos que neste momento podiam estar a ser usados como cobaias para fins medicinais ou até estrupados por almas cruéis que vivem neste mundo...neste momento, a morte parece ser o caminho mais pacífico que existe.

Lágrimas caem enquanto escrevo estas palavras, não apenas por mim, mas por todas aquelas almas cujo futuros e histórias se perderam nas cinzas. Em cada esquina deste campo de desespero, vejo a crueldade humana no seu auge...nunca pensei que algo chegasse a este nível, no entanto, espero que as minhas palavras um dia sirvam como uma lembrança deste acontecimento de forma a não se voltar a repetir, imaginem que numa destas vidas estava o próximo Albert Einstein ou até a cura de uma doença mortal.

Mas com estas palavras deixo este dia atormentador, que amanhã é outro e provavelmente terá mais sofrimento.

Sandro Pereira